domingo, 3 de março de 2013

Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar

Venham mais cinco, mais dez, mais mil, mais um gugol de pessoas! Foi este o apelo feito.
Eu fui. Nós fomos.
Largo 2 de março, dia 2 de março. Lá estávamos. Pouquíssimos, porém os que já contávamos ver por lá. Ou quase todos: deceção (agora escreve-se assim, não é?). Apeteceu virar as costas e dizer que é já tempo de embalar a trouxa e zarpar, daqui. Deste estado de letargia social. Por momentos, quase que. Depois, por convicção própria e respeito aos cabelos brancos dos que lá estavam (os nossos também já estão a ficar brancos), lá fomos pelo sonho. É pelo Sonho que vamos.
Bandeiras de um sidicato. Cartazes. Panos rasgados por letras vermelhas e pretas (o que faz lembrar?). Alguns, apoiavam-se em bengalas. Outros na força da voz, do coração. De ideais sufocados, interrompidos, assassinados. A coragem de uma jovem mãe que, sacou da cozinha duas tampas de panelas e, qual arma, o filho empunhava. Fazia barulho. No caso, música de esperança em algo que ele nem sequer sabe existir ou não existir.

O povo saiu à rua. Sim, saiu. Reparámos na composição: artistas, políticos que continuam a gritar desde o antes de Abril (este com A maiúsculo, sempre), reformados (gostei tanto de ver antigos professores fiéis aos seus princípios de sempre), professores (mais uma deceção: e os que estiveram connosco anteriormente? Estarão já contentes? Não me obriguem a vir para a rua gritar...).
O aparato policial previa algo maior. Até eles pensaram assim... Fotógrafos e contra-fotógrafos. Sim, isto de fotografar alguém que luta por si é, no mínimo, digno de uns belos disparos! A palavra é (era) uma arma, agora é a foto.
Já na Matriz, um coelho branco. Lindo. O dono, de máscara. Não precisava pois foi de fácil identificação. Tiriririri buririririri, Tiriririri paraburibaie...
O que mais saltou à vista foi a ausência de jovens! Na maioria, e a contar pelas fisionomias, grande parte dos manifestantes já ultrapassou os 40 anos e alguns há um bom par de anos. Comentámos, entre nós, que nascemos e crescemos com a esperança de igualdade e justiça social. De paz.A gente ajuda, havemos de ser mais, Eu bem sei. Mas há quem queira, deitar abaixo O que eu levantei.
No meio da multidão, uns olhos claros de mar, de esperança, de luta, de quase-dor-sem-resignação, um resistente. Cabelo alvo. Contaram-se, mais tarde, parte do seu relato. Da sua remomeração de ontem à tarde. Dei logo por ele, no início, com a sua bandeira em punho.
Aguardando pelas 17h30m, cantigas de intervenção, desabafos, depoimentos. Uma criança falou. Sonhou. À hora, todos cantámos. Afinados, não-afinados, agudos, graves. Não importa. Uma Tuna envergonhada estava por lá. Mais longe. Melhor, do outro lado da rua. A multidão dispersa e a Tuna ocupa o espaço. Até parecia que iam cantar!!! Nada. Bem me diziam, bem me avisavam. Como era a lei. Na minha terra, quem trepa No coqueiro é o rei.

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