quinta-feira, 5 de junho de 2008

Uma Inauguração com a Escola

Aconteceu no Dia do Ambiente (não fossem todos os dias do Ambiente!!!) a inauguração das obras que, supostamente, beneficiaram a zona balnear dos Poços de São Vicente. Gente importante e bem vestida e gente ainda mais importante a cantar e a dançar: as nossas crianças!
Os olhares inocentes alheios a tanto cimento e betão armado... a impossibilidade de recordarem o negro basalto que testemunhou tantas lágrimas quando o barco tardava em chegar nos escuros dias do Inverno antigo. Rochas que tinham marcadas nas suas rugas profundas a expressão da alegria por uma campanha bem sucedida ou uma caça à baleia sem tragédias.

O mar, este mar que permite sonhar em azul... agitado por mãos e braços sincronizados na alegria de um dia "fora da escola", com a cumplicidade da professora que acredita na força dos seus meninos: estes rapazes fortes e valentes capazes de - imagine-se!- fazerem tempestades e aplacarem a ira dos elementos com um simples sorriso.

As mulheres (ainda meninas) safam os aparelhos em terra, tecendo também os enredos mais recentes da freguesias. As roupas são simples e belas, algumas rotas e sem cor de tanto secarem ao rocio.
Eis que então... o vigia manda uma roqueira e... zás! Todos os homens, que estavam nos campos, se lançam ao mar nos seus barquinhos. Músculos rijos, o olhar atento (ao que fazem e à sua professora) e é remar, é limpar o suor do rosto, é lançar o arpão da esperança neste mar...
Ainda há aos vendedores de peixe e os pescadores de pedra, já muito cansados porque ainda têm dentinhos de leite.

Agita-se um hino de homenagem ao baleeiro. Sei que ele ouviu, entre dois soluços: um por ver os nossos Poços descaracterizados, outro por tanto procurar a sua fábrica da baleia e só encontrar a chaminé. Sinal dos tempos? Sim, mas tempos de quê???

terça-feira, 3 de junho de 2008

O Espírito Santo numa Escola

Mais uma vez aconteceu numa escola, em pleno século XXI, o cumprimento de um voto feito pelos nossos antepassados aquando das aflições e angústias provocadas pelos terramotos e vulcões. A alma do Açoriano, forte e inabalável, move multidões, vence cansaços, enche de Fé mesmo aqueles que - por nascimento - pertencem a outros lugares.

A escola assume um papel duplo nestas ocasiões: o "dever" de integrar as aprendizagens na Cultura Regional que se quer promover e, não menos importante, a responsabilização pela perpetuação da pureza das tradições.
Os jovens alunos assimilam das Festas em honra do Espírito Santo muito pouco da sua génese: a Caridade e a Partilha! É ver pelas freguesias da ilha desfiles de artistas de qualidade duvidosa que nada têm a ver com o espírito da celebração; ruído mais do que seria razoável suportar; tentativas absurdas de superar o tempo de duração do fogo de artifício de "mordomo" para "mordomo";... enfim muita ostentação! Fico triste ao constatar isto tudo e, quando se comenta e sugerem alterações, a resposta é, invariavelmente, a mesma: "Há que chamar o povo. O povo gosta desta música. A freguesia x não pode ficar atrás da freguesia y".

Por isso... gosto de cada vez mais das Festas da minha escola. Adoro ajudar nos preparativos com os meus alunos - naqueles dias, são todos meus alunos! O trabalho com os meus colegas é uma verdadeira prova de solidariedade e compreensão. Emociono-me na Coroação ao ver as crianças com dificuldades físicas, também as mais pequeninas, a participarem. Por vezes, só se percebe o olhar... Depois, também é interessante, desmontar a estrutura e guardar os adereços, com muito carinho, para o próximo ano.
Não resisto a contar que tive o previlégio de receber parte da massa sovada na escola. Quando o distribuidor foi buscar a factura, entrega-me uma argola de massa e diz: "Esta é uma oferta para a Mordomia!". Senti-me mesmo no antigamente micaelense!
Tenho de louvar a coragem dos colegas-mordomos que... semanas antes falam com as pessoas que habitualmente colaboram (eles já sabem!!!). É importante dar uma nota de excelência aos colegas do Conselho Executivo que reconhecem as virtudes e objectivos destas Festas.
Até para o ano!

"Oh Senhor Espírito Santo
A vossa capela cheira
Cheira a cravo, cheira a rosa
Cheira a flor de laranjeira"