domingo, 25 de abril de 2010

O Abril que uns sonharam e outros nem por isso...

Sempre que possível, dedico algum tempo da manhã do dia 25 de Abril a apreciar os discursos na Assembleia da República. Tenho este hábito desde bem jovem. Agrada-me ouvir a eloquência dos oradores, os momentos evocativos do nosso passado épico, as homenagens aos Capitães de Abril e ainda a esperança que tempera alguns dos discursos. Também gosto de ver os cravos...

Falaram hoje [novamente] da Liberdade do "depois", pois no "antes" parece que esta quase não existia. Vivi seis anos e tal no "antes" e o meu conceito de liberdade, na altura, restringia-se a fazer alguma traquinice à revelia dos meus pais (sem que eles suspeitasem depois, obviamente). No entanto fui criada num ambiente marcado pela vida militar, pela Guerra Colonial e por algumas conversas de "gente grande, que tu ainda não percebes". Bela ilusão senti quando alguém na nossa casa nos disse que a partir daquele dia, o meu Pai não mais iria para África (ele ainda foi duas vezes depois de 74) e que iriamos todos nós [portugueses] ser livres, felizes e prósperos. Durante algum tempo,na minha mente de criança, senti o sabor de um tempo diferente. Muita alegria, porém também um medo prudente de algumas vozes próximas. Nada entendia, nada percebia... mas cantava a "Gaivota" com muita convicção!
Na altura, comecei a despertar para outras coisas. Foi a chegada da televisão. A Heidi, o Vickey, a Casa na Pradaria, os Bonanza e o Festival da Canção. Doce vida. Até havia festa no dia das Eleições, onde amigos e família jogavam às cartas. A minha Mãe fazia sempre um bolo e outras iguarias para o longo serão.

Volvidos estes anos todos, questiono-me quanto à integridade dos objectivos da Revolução no momento presente. Julgo que o maior de todos - a Democracia - desvanesceu no tempo... pufff...
Actualmente tudo o que se faz, faz-se por razões puramente economicistas, embora todos digam que os objectivos são filantrópicos, de justiça social, de desenvolvimento tecnológico e sei lá mais o quê. Não há coragem, nos "micro-governos" (que estão em todos os sectores... desde escolas a hospitais, passando por empresas particulares) para reconhecer algo que está mal. Então, como poderá haver em escala maior?
Nós, portuguesinhos dizemos sempre que sim. Que sim senhor, que está bem assim. Não nos incomodamos sequer em contestar e, quando o fazemos obtemos respostas descabidas e, vou dizer, estupidamente correctas. A acomodação é um vírus perigoso!!!

Recebi na semana passada duas cartas das Finanças. Uma confirmava a simulação do meu retorno do IRS: uns válidos 25 euros e remetia-me para outra que iria receber. Por acaso abri na ordem correcta os envelopes, vá lá! A segunda dizia que segundo blá, blá, blá (estas coisas que lesgislam e atribuem números) não tinha direito ao retorno! Se fossem só os MEUS 25 euros, seria uma "gota de água no oceano", mas quantas vezes 25 euros ficaram nos Cofres??? Não é preciso ser professora de Matemática, como eu, para fazer uma estimativa!
E isto tudo a propósito da comemoração de uma data em que muitos quiseram saber quem são e o que fazem aqui.
Eu já não sei...

ps: este post é para a Nélia: também uma inconformada.